Editorial

É tempo de reconstruir a Escola da Democracia e dos Direitos Humanos

Atualizada em 12/04/2023 10:05

A diretoria do SinproSP tem acompanhado de muito perto, com atenção e preocupação, os recentes casos de ameaças, ataques e violências acontecidos em escolas, diferentes estados do Brasil. Lamentamos profundamente as mortes ocorridas e nos solidarizamos com as famílias das vítimas dessas tantas e inaceitáveis tragédias sociais. Entendemos, sim, que o momento é bastante delicado, extremamente complexo. Exige, de todas e todos, serenidade, responsabilidade e equilíbrio, para lidar inclusive com boatos que apostam no caos e tentam nos intimidar e paralisar.

São muitas, afinal, as razões que nos conduziram até aqui: discursos de ódio, atuação de grupos extremistas, acesso facilitado e incentivo ao uso de armas, intolerâncias, fakenews e a brutalidade de seduções de redes sociais, incapacidade de conviver com os diferentes, a força estúpida das agressões sufocando a necessária disputa de ideias, a Educação tratada com desdém, de forma utilitária e como mercadoria. Nos últimos quatro anos, tóxicos, vivemos ainda, cotidianamente, ataques constantes às instituições e à democracia. É inescapável: o universo escolar foi também profundamente afetado por todas essas perversas pressões. Assustados e assustadas, estudantes e suas famílias, professoras e professores não escondem: estamos com medo.

Evidentemente, não se deve, de maneira alguma, aceitar esse estado das coisas, como se fosse “natural”. Não é. Não pode ser. É preciso acolher e cuidar dos nossos medos. São legítimos. Respostas fáceis e imediatistas, no entanto, tendem a apenas alimentar e fazer reproduzir – e recrudescer – esse circuito das violências. São muitos os desafios – e é fundamental que se ouça especialistas e estudiosas e estudiosos do assunto. Estão a recomendar que, de forma transversal e articulada, com atuação inteligente e em cooperação, os órgãos competentes, em nível federal, estadual e municipal, enfrentem e desmontem, na origem, os circuitos extremistas e de ódio, restringindo significativamente o acesso às armas, desbaratando as quadrilhas e punindo os criminosos. As plataformas e gigantes de tecnologia que atuam nas redes sociais precisam ser responsabilizadas pelos conteúdos que nelas são veiculados, ajudando a combater crimes. A mídia não pode fomentar, em suas coberturas, narrativas sensacionalistas, policialescas e espetacularizadas – tampouco o chamado efeito contágio. São iniciativas que, sem soluços momentâneos ou fórmulas mágicas, já apontam para o começo de uma longa jornada.

Ainda de acordo com as vozes de especialistas, escolas precisam ser equipadas com laboratórios, bibliotecas, salas de leitura, refeitórios, quadras esportivas e equipes multiprofissionais capazes de dar suporte psicológico e de cuidar da saúde mental da comunidade escolar. É urgente valorizar professoras e professores, garantindo bons salários e condições dignas de trabalho. Para além dessa necessária – mas não suficiente - reconstrução do espaço escolar, a diretoria do SinproSP reafirma ainda, filosoficamente, sua mais profunda convicção humanista e civilizatória: no Brasil democrático que recuperamos e estamos reconstruindo, escolas precisam também voltar a ser universos de afetos, de encontros, de diálogos, de abraços, do exercício da solidariedade, tolerância e empatia, da gestão participativa, da rebeldia criativa e emancipatória. Nessa nossa escola, a diversidade é respeitada, os conflitos são mediados e os princípios dos Direitos Humanos e de uma cultura de paz norteiam todas as relações.

São muitas as pessoas que acreditam nesse projeto de reconstrução. Confiamos que seja a maioria. E reforçamos, assim, nosso chamamento à sociedade: somos capazes de, coletivamente, juntas e juntos, construir as condições, iniciativas e políticas públicas para interromper imediatamente essa jornada de horror. Haveremos de resgatar sonhos e esperanças.

Escola é, e deve sempre ser, lugar de vida.

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