Coronavírus

Retorno às aulas? Só no tempo certo

Atualizada em 26/06/2020 12:47

O plano de reabertura das escolas anunciado pelo governo estadual na última quarta-feira, dia 24 de junho, sugere que a volta às aulas deverá acontecer a partir de 08 de setembro. O secretário de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, no entanto, fez questão de ressaltar em vários momentos da entrevista coletiva que, para que o cronograma seja efetivamente cumprido, todas as 17 regiões (denominadas Departamentos Regionais de Saúde)  deverão permanecer durante pelo menos 28 dias, sem retrocessos, na chamada “fase amarela” da retomada, estágio que permite a “flexibilização” da quarentena. Quando esse texto estava sendo fechado, em 26 de junho, o governo divulgou a quarta atualização do mapa de São Paulo. Embora a cidade de São Paulo e a região do ABC tivessem passado para a fase amarela, outras quatro regiões retrocederam para a fase vermelha, pintando o mapa de São Paulo com um quadro assustador. E o prefeito Bruno Covas ainda ponderou ser necessário aguardar mais uma semana para confirmar a fase amarela no município.

Por si só, essas fotografias  são reveladoras do gravíssimo momento que São Paulo ainda vive em relação à pandemia. As imagensrecomendam também de maneira contundente e sem margem para aventuras que os parâmetros científicos e os cuidados com a saúde pública devemser rigorosamente os únicos critérios a conduzir, nas próximas semanas, essa perspectiva de volta às aulas, escapando de quaisquer pressões políticas ou da mera e mesquinha ganância por lucros. É importante lembrar que os números e as curvas de mortes e de contaminações permanecem em níveis elevados, sem sinais de estabilização, e assustam a comunidade escolar (professoras, professores, funcionários e funcionárias administrativos, estudantes e suas famílias), que tem manifestado muitos medos e angústias legítimas em relação a esse retorno. “Será mesmo que está chegando a hora de voltar?”, perguntam. O SinproSP reforça: o reencontro com a sala de aula exige o respeito a um rigoroso protocolo de medidas de proteção à saúde, desenvolvido com muita cautela, sensibilidade, responsabilidade e segurança.

As próximas semanas serão também fundamentais para que se possa discutir, coletivamente, e com o mesmo grau de relevância, as condições de trabalho de professoras e professores com esse retorno. Não se pode permitir que a panaceia do ensino híbrido, que já começa a ser vendido como solução mágica para todos os problemas educacionais pós-pandemia, signifique desrespeito a direitos da categoria e precarização do trabalho. Se a proposta é retornar com 35% dos alunos, como acontecerão as aulas para os demais 65%? Haverá jornada dupla, repetição de conteúdos? Transmissão simultânea para as casas dos estudantes? E a remuneração? Será dobrada? Triplicada? Como fica o tempo de descanso? Na prática, como vai funcionar a combinação de momentos presenciais com encontros remotos? As professoras e os professores têm muito a dizer sobre essas questões, pois conhecem com toda a propriedade as diferentes realidades estruturais que marcam a rede privada de ensino de São Paulo, das áreas mais nobres da cidade às regiões mais periféricas. Estamos falando, na verdade, de múltiplas realidades – e não de uma fotografia homogênea.

Estão na pauta desse retorno ainda aspectos psicológicos, emocionais e pedagógicos. É preciso refletir, desde já e com muita serenidade e seriedade, sobre a necessidade de acolhida e construção de uma rede de afetos, disposta a abraçar e receber bem todas e todos que estarão novamente nas escolas, após quase seis meses afastados desse convívio (se o retorno acontecer mesmo a partir de 8 de setembro). Não se pode deixar de lado, por fim, a imensa preocupação com os conteúdos desenvolvidos (ou não) durante o período de isolamento social, as avaliações, as singularidades de aprendizagem, como se dará o final do ano letivo. Professoras e professores querem ter voz ativa nessas conversas também.

Por isso tudo, as entidades sindicais que representam professoras, professores e trabalhadoras e trabalhadores em educação, articulando as diferentes redes, exigem participar dos comitês oficiais responsáveis por debater os caminhos dessa volta às aulas. Com o respaldo da categoria, e num diálogo permanente com ela, o SinproSP, que faz parte dessa articulação, pretende levar a essas instâncias de consulta e deliberação, ao debate público, para o conjunto da sociedade, num exercício democrático de construção coletiva e plural, a necessidade e o compromisso irrestrito com uma volta às aulas não apenas inteligente – mas também e sobretudo responsável. E no tempo certo.

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