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Erros no Enem combinam arrogância, incompetência e aparelhamento do MEC

Atualizada em 31/01/2020 01:07

Nos primeiros oito meses do governo Bolsonaro, a Diretoria de Avaliação da Educação Básica (Daeb) do Inep, responsável pela aplicação do Enem, permaneceu cinco meses sem titular. Entre janeiro e agosto de 2019, a presidência do INEP foi trocada cinco vezes e outras diretorias, como a de Avaliação do Ensino Superior e a de Estudos Educacionais, permaneceram um bom tempo sem titulares. Os fatos, gravíssimos, foram denunciados em artigo publicado pelo SinproSP, em agosto de 2019. 

Isso tudo sem contar a perseguição contra servidores e o aparelhamento dos órgãos ligados ao MEC por pessoas não qualificadas,mas comprometidas com a agenda ultraconservadora do governo. Pesou também a incapacidade de o governo encontrar quadros afinados com sua orientação ideológica capazes de substituir servidores experientes.

Está aí o resultado: o "melhor Enem de todos os tempos" tornou-se um exemplo de má gestão, arrogância e instrumentalização ideológica (essa sim) do MEC. Mas seria injustiça atribuir o fiasco do Enem apenas ao esvaziamento do Inep. O governo está colhendo os frutos de uma gestão irresponsável que definiu como prioridades perseguir professores e destruir a produção científica e a educação pública.

O Café da Manhã*, podcast do jornal Folha de S. Paulo, entrevistou o professor da Faculdade de Educação da USP, Ocimar Alarvase, especialista em avaliação educacional. Foi uma entrevista muito didática sobre os erros do Enem, que vale a pena ser ouvida na íntegra.

O professor citou uma sucessão de problemas criados ou não resolvidos pelos titulares da Educação, que ajudam a explicar a situação a que chegamos hoje. Entre eles, Alarvase relembrou que uma das primeiras iniciativas do então ministro Veléz foi criar uma comissão para detectar "questões ideológicas" , permitindo o acesso indevido de pessoas ao banco de questões do Enem, um ambiente que deveria ser de segurança máxima. Uma dessas pessoas foi aluno de Vélez.

Em abril de 2019, a gráfica encarregada de imprimir os cadernos do Enem faliu, mas o MEC minimizou o problema alegando que o exame não estava ameaçado. Ao ser obrigado a reconhecer a troca de gabaritos, o MEC acabou responsabilizando a gráfica. Em novembro de 2019, houve vazamento de fotos do caderno de questões do Enem, antes do final da prova. Weintraub voltou a minimizar o problema, insistindo que não se tratava de vazamento, pois as fotos tinham sido divulgadas depois de iniciada a prova ...

Para o professor Alarvase, o INEP ainda deve uma resposta plausível para a troca de gabarito dos alunos. Mais uma vez, o que se viu foi uma tentativa de desqualificar um assunto seríssimo. 

Por fim, e isso é o mais grave, funcionários do INEP disseram ao Jornal Folha de S. Paulo, que não dá pra confiar 100% nos resultados do Enem, já que o INEP, diante das reclamações, reavaliou o desempenho dos alunos sem recalcular os parâmetros para atribuição do peso de cada questão, o que pode comprometer a pontuação final dos candidatos.

São denúncias tão graves que fazem das provocações de Weintraub apenas uma patética caricatura destes tempos sombrios.

Os erros do Enem não são obra do acaso, mas o resultado natural da política desastrosa do governo Bolsonaro para a Educação. Pouco adianta substituir o ministro:  infelizmente, a política continuará a mesma. 

* Disponível no Spotify ou no site da Folha de S. Paulo

 

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