Ensino superior

Cotas na universidade: a posição do SINPRO-SP

Atualizada em 10/08/2012 15:55

O Senado aprovou nesta semana projeto que estabelece a reserva de metade das vagas de todas as universidades federais do país para o ingresso de alunos da escola pública. Desse total, metade ainda deve ser destinada a estudantes negros, pardos ou índios.

O projeto aguarda agora a sanção da presidente Dilma. E já gerou polêmica. Há quem aprove a reserva de cotas, há quem se posicione contrário. As universidades particulares rapidamente vieram a público criticar o projeto e ameaçam questionar judicialmente o projeto, caso entre em vigor.

Para ampliar o debate conversamos com o presidente do SINPRO-SP, o Prof. Luiz Antonio Barbagli sobre a questão. As principais perguntas podem ser conferidas abaixo:

Como vê o projeto que estabelece cotas nas universidades federais?

É uma questão complexa. A luta histórica por igualdade social e racial é digna e justa. Mas, receio que a decisão pelas cotas pode gerar outros problemas, preconceitos e distorções. Creio que o mérito é um dado importante. Muitos alunos das escolas públicas conseguiram chegar à universidade e crescer, apesar das adversidades. Sem dúvida, é preciso buscar a igualdade de acesso ao ensino superior, mas acredito que isso deve se dar antes da chegada à universidade.

Você quer dizer na educação de base?

Sim. A desigualdade precisa ser fortemente combatida no início e no meio do processo. A verdade é que os alunos da rede pública, em boa parte dos casos, chegam ao processo seletivo para a entrada no ensino superior em desvantagem em relação aos colegas que estudaram em escolas particulares. Não tiveram oportunidades de estudar nas mesmas condições. E isso é um problema sério.

Como vê a implantação das cotas no atual cenário do ensino superior brasileiro?

O ensino superior brasileiro é bastante desigual. Mais de 80% está na mão da iniciativa privada. Por muito tempo o poder público ignorou a necessidade de ampliação das ofertas. Só recentemente, observamos o surgimento de novas universidades. Por anos, o crescimento se deu quase que exclusivamente no ensino privado. E aí chegamos ao cenário atual.

Certamente a adoção de cotas nessa proporção, ou seja, de metade das vagas terá um impacto no ingresso dos alunos. E isso poderá diminuir a procura por instituições particulares. A grande questão que se estabelece é que projeto quer se estabelecer para o ensino superior do país?

As universidades particulares já se manifestaram contrárias ao projeto e consideram questioná-lo judicialmente. Como vê essa posição?

Os empresários já identificaram os riscos de perda que podem sofrer, com queda na procura dos futuros novos alunos. Muitos alunos que antes estudavam em instituições particulares de ensino, agora podem ter o acesso facilitado às universidades públicas devido ao novo sistema de cotas.

A atitude de questionar juridicamente o projeto mostra que as instituições privadas não se importam com a qualidade de ensino, apenas se preocupam com o quanto deixarão de ganhar.

Trata-se, então, de um cenário negativo para as privadas?

Eu acredito que é uma excelente oportunidade para as instituições particulares pensarem em algo que pode ser um grande diferencial: o investimento em qualidade. Ensino de qualidade, condições de trabalho, investimento em pesquisa. E isso se consegue com investimento nos professores, bons salários. Trata-se de uma saída em que todos ganhariam, não é mesmo? Podemos enxergar como um processo pela qualidade. É um grande desafio. E os empresários que entenderem isso poderão sair na frente na consolidação de um novo cenário futuro do ensino superior.

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