Audiência pública expõe novas denúncias contra o grupo Vitamina
A pedido do vereador Celso Giannazi (PSol), foi realizada na noite de 13 de novembro, na Câmara Municipal de São Paulo, mais uma audiência pública para discutir o golpe aplicado pela holding chilena Vitamina contra professores, funcionários, fornecedores, pais de alunos e antigos donos das escolas de educação infantil que foram compradas pelo grupo econômico entre 2020 e 2021. Mais uma vez, o SinproSP participou do evento, que também contou com a presença do deputado estadual Carlos Giannazi e da deputada federal Luciene Cavalcanti, ambos do Psol, que formam, com o vereador Celso, o Coletivo Educação em Primeiro Lugar.
A professora Silvia Barbara, diretora do SinproSP, está ao lado das professoras e dos professores do Vitamina desde 2021, quando surgiram as primeiras denúncias. Desde agosto último, o Sindicato e os professores somaram-se aos três parlamentares, a advogados e a um numeroso grupo de pessoas lesadas pelo Vitamina, juntando forças para exigir que a rede chilena seja investigada, punida e pague o que deve.
O montante do calote pode chegar a R$ 100 milhões, estimam alguns advogados. Nos últimos dois meses, foram realizadas duas audiências públicas (a primeira, na Assembleia Legislativa) e um grande ato de protesto na Paulista, em frente ao consulado chileno.
Novas denúncias expõem o Vitamina e agravam a situação
A audiência do dia 13 transformou-se num palco de nova denúncias, expostas nos depoimentos de ex-funcionários, fornecedores, locatários de imóveis e antigos donos das escolas.
Uma das denúncias pode contribuir para jogar luz sobre o destino dos aportes feitos por investidores para a compra das escolas: uma ex-consultora falou sobre a criação de uma universidade corporativa, em 2022 (ano em que a crise ficou ainda mais acentuada), que deveria “sustentar a expansão da rede em toda a América do Sul”.
De calote generalizado à pressão para que o RH omitisse os problemas quando questionados pelos funcionários, as denúncias são muito graves (veja box), com um custo que não é só econômico, mas afeta a saúde mental de todas as pessoas atingidas.
O vereador Celso Giannazi falou das ações tomadas nas três esferas do poder por meio do Coletivo Educação em Primeiro Lugar e ressaltou a importância do debate realizado na Câmara Municipal. “A audiência se presta a esse objetivo: intensificar as ações para punir os responsáveis, reparar os danos causados, servindo também como uma ação educativa para que isso nunca mais ocorra”, afirmou.
A deputada federal Luciene Cavalcanti criticou a Prefeitura que, ao responder ao ofício dos parlamentares, minimizou o problema, dizendo tratar-se de relações comerciais. “É inadmissível. Estamos falando de um golpe orquestrado contra 37 escolas. O mínimo que a Prefeitura tem que fazer é uma auditoria no grupo Vitamina”, protestou.
O deputado Carlos Giannazi salientou que todos os parlamentares ali presentes são membros das Comissões de Educação em suas respectivas casas. “Estamos utilizando todas as ferramentas de que dispomos para que haja reparação, justiça a todas as pessoas que foram golpeadas. Vamos continuar cobrando o poder público”, concluiu.
Pelo SinproSP, a professora Silvia Barbara, ressaltou três questões fundamentais para avançar na luta: não estar sozinho, nunca desistir da luta e criar novas possibilidades, quando as alternativas são escassas. “Para nós, agora, é muito importante dar toda visibilidade possível para o que está acontecendo. E é isso que estamos fazendo. Ninguém solta a mão de ninguém”, concluiu agradecendo aos presentes e aos três parlamentares que colocaram o mandato a serviço das vítimas do Vitamina.
Novas denúncias são escandalosas
Confira aqui as denúncias feitas na audiência pública da Câmara Municipal
Plano de saúde com desconto e sem consulta – outra acusação refere-se aos valores descontados nos holerites, que não eram repassados para as empresas de assistência médica. Os trabalhadores só tomavam conhecimento quando tentavam fazer uma consulta.
Mensalidades escolares - segundo uma ex-professora, os pais de algumas escolas estão sendo orientados a pagar as mensalidades escolares na conta de um outro estabelecimento de ensino do grupo, a Escola Santa Maria. Essa é uma forma conhecida para burlar o bloqueio em contas bancárias, decorrentes de ações judiciais.
Antigos donos de escola processados por calote do Vitamina – além de não ter recebido pela veda da escola, uma ex-proprietária afirmou que está sendo processada em duas ações por valores que deveriam ter sido pagos pelo grupo chileno.
Segundo o advogado Joel Batista, dívidas existentes eram deduzidas dos valores de compra das escolas, com o compromisso de que seriam quitadas. Contudo, o Vitamina não pagou e agora, os bancos estão indo atrás dos antigos proprietários para cobrar a dívida.
Universidade corporativa – em 2022, ano de agravamento da crise nas escolas, o Vitamina criou uma universidade corporativa que poderia alavancar a holding em toda a América. Para tanto, contratou uma equipe que fez o trabalho, mas não recebeu tudo que havia sido combinado.
Ações de despejo – locatárias de três casa na Vila Olímpia estão sem receber os aluguéis há um ano e tiveram que ingressar com ação de despejo. Ainda assim, o Vitamina está fazendo campanha de matrículas para 2024.