“Melhor morrer na luta do que morrer de fome” – Margarida Alves
(*) Sandra Caballero, professora de História e de Sociologia e diretora do SinproSP
Nos dias 15 e 16 de agosto ocorre a 7ª edição da Marcha das Margaridas em Brasília. O evento é inspirado na história de vida e morte de Margarida Maria Alves, nascida em 05 de agosto de 1933 e assassinada em 12 de agosto de 1983, aos 50 anos.
A primeira edição do evento ocorreu no ano 2000 e reuniu cerca de 200 mil mulheres, a maioria oriunda do campo (agricultoras, quilombolas, indígenas, pescadoras e extrativistas), que lutam por melhores condições de trabalho e pela reforma agrária, entre outras pautas do universo feminino. Mas, para entendermos o sentido dessa mobilização é preciso conhecer a história de vida e de morte da sindicalista Margarida Alves.
Filha de pequenos agricultores da Paraíba, a caçula de 9 irmãos, viu sua família ser expulsa das suas terras por latifundiários, numa época em que o coronelismo não era chamado de agro e não tinha o status de “pop”. Tinha apenas 22 anos e a 4ª série do antigo primário, desde os 11 anos trabalhava na enxada, ajudando o pai.
A família vai viver na periferia de Alagoa Grande e, em 1971, Margarida se torna a primeira mulher a assumir o comando de um sindicato de trabalhadores rurais. Atua, também, no Movimento de Mulheres Trabalhadoras do Brejo (MMB), surgido nos anos 80, para promover os direitos das mulheres trabalhadoras da Paraíba. No sindicato, cria o programa para a alfabetização de adultos, a partir do método Paulo Freire, para atender uma maioria de camponeses analfabetos.
Enfrenta uma situação de descalabro nas usinas de produção de açúcar: ausência de direitos trabalhistas, longas jornadas de trabalho, baixa remuneração e trabalho infantil. A Usina Tanques, a maior da região, respondia por mais de cem ações trabalhistas.
A ação firme da sindicalista começa a incomodar os grandes proprietários paraibanos, reunidos no Grupo Várzea, formado por latifundiários, políticos locais, autoridades e servidores públicos.
No dia 12 da agosto de 1983, um pistoleiro bate à porta de Margarida, pergunta o seu nome e, com a confirmação de sua identidade, atira em seu rosto com uma carabina calibre 12. Seu filho de 8 anos, que brincava na calçada, presenciou o crime bárbaro. Um mês antes do assassinato, José Mel, proprietário do engenho Miranda, havia agredido a líder sindical e, dias antes do crime, ela foi ameaçada pelo dono da Usina Tanques, José Buarque de Gusmão Neto, que já era acusado de ser o mandante do assassinato do líder camponês João Pedro Teixeira, em 1962.
Com a grande repercussão nacional e internacional do crime, o Ministério Público indica, como executores do assassinato, o PM Betâneo Carneiro dos Santos e os pistoleiros e irmãos, Amauri José do Rego e Amaro José do Rego. Além do dono da Usina Tanques, são acusados de serem os mandantes, seu genro, líder do grupo Várzea e diretor da Usina, José Buarque de Gusmão Neto e o fazendeiro Antônio Carlos Coutinho. O motorista do dia do crime, Severino Carneiro de Araújo, é assassinado em 1986, junto com outro acusado, Edgar Paes Araújo, no que, possivelmente, foi uma queima de arquivo.
Antônio Carlos Coutinho é levado a julgamento, entre 1995 e 1998, e absolvido por falta de provas. Agnaldo Veloso Borges morreu antes do julgamento, em 1990. Betâneo Carneiro teve o processo extinto, em 1997, por prescrição.
Se pode ser considerado justiça, em 2012, a posse da Usina Tanques, falida e em ruínas, foi entregue ao Incra para fins de Reforma Agrária.
Com 4 mil sindicatos filiados e parceria com entidades do movimento feminista, a Marcha das Margaridas 2023, foi construída a partir de um processo de debates das pautas, formação política e mobilizações nos estados. Condições de vida do mundo do trabalho, reforma agrária, soberania alimentar, direitos reprodutivos da mulher estão entre os temas debatidos. A ideia é reunir 40 mil mulheres, na primeira mobilização da Marcha pós-pandemia.
Fontes:
https://www.brasildefatope.com.br/2023/07/24/a-7-marcha-das-margaridas-e-a-continuidade-de-uma-longa-historia-de-luta
https://memorialdaresistenciasp.org.br/pessoas/margarida-maria-alves/
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/marcha-das-margaridas-o-protesto-nacional-idealizado-por-trabalhadoras-rurais.phtml
https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2019/08/saiba-quem-foi-margarida-alves-sindicalista-que-da-nome-a-marcha-camponesa-cjzbcndzy01nb01odwpadirxg.html