PUC-SP, 22 de setembro de 1977
Há 45 anos, no dia 22 de setembro de 1977, tropas policiais cercaram o campus Monte Alegre da PUC-SP, invadiram o prédio pelas quatro entradas e reprimiram com violência os estudantes. Muitos deles estavam em aula, outros, encontravam-se reunidos em frente ao Tuca, na Rua Monte Alegre, para um ato público.
Era um momento de efervescência do movimento estudantil. Segundo o jornalista José Arbex que, na época, estudava na Poli-Usp e hoje leciona na PUC-SP, a reorganização do DCE –USP havia impulsionado a reconstrução de entidades estudantis em todo o país. (assista aqui)
Nesse ambiente, o 3º ENE – Encontro Nacional de Estudantes foi marcado para acontecer na PUC, em 22 de setembro de 1977. Na pauta, a "refundação" da UNE. Criada em 1937, a União Nacional dos Estudantes nunca deixou de existir oficialmente, mas foi esfacelada em 1964 pela Lei Suplicy, que limitava a organização política dos estudantes e controlava as entidades, como centros acadêmicos e diretórios.
Os governos federal e estadual queriam impedir a realização do encontro. O então secretário da segurança pública, coronel Erasmo Dias, bloqueou vias de acesso à cidade para que os delegados não conseguissem chegar. No dia 21, a cidade universitária, a PUC-SP e a FGV amanheceram cercadas por tropas.
Ainda assim, no final da manhã de 22/09, lideranças estudantis anunciaram a realização do 3º ENE, que deliberou pela criação de uma comissão pró-Une e a realização de um ato público em frente ao Tuca, na mesma noite.
É proibido falar!
Mal tinha começado, a manifestação na porta do Tuca foi dissipada com violência por policiais comandados por Erasmo Dias. Ao mesmo tempo, tropas invadiram o campus, retiraram professores e alunos das salas de aula, expulsaram funcionários de seus locais de trabalho e destruíram salas e equipamentos. Cassetetes, bombas tóxicas e até o medonho “brucutu”, carro de choque usado para dispersar multidões, foram empregados para acuar e cercar as pessoas. Obrigadas a permanecer em fila indiana, elas foram levadas a um estacionamento para triagem de quem seria preso ou liberado. Cerca de 500 alunos terminaram a noite presos. Desses, 32 acabaram enquadrados na Lei de Segurança Nacional.
Diante de uma aluna que chorava em desespero e do protesto de um homem, o coronel Erasmo Dias disse uma frase que ainda hoje é tristemente lembrada: “É proibido falar aqui. Só quem fala aqui sou eu”.
A invasão da PUC-SP gerou diversas manifestações de solidariedade e de protesto contra a violência policial. Tornou-se um marco para o movimento estudantil, com a rearticulação da Une, e uma referência na luta contra a ditadura. Passados 45 anos, o tema se faz bastante atual e merece ser lembrado, já que nossa Democracia vem sendo colocada à prova diariamente.
_________________________________________________
Referências
Comissão da Verdade da PUC-SP Reitora Nadir Gouveia Kfouri
Memorial da Democracia
Rede PUC - 40 anos da invasão da PUC (diversos documentários)