Educação básica

Quebra de sigilo e censura: ministro da Educação quer ter acesso prévio ao Enem

Atualizada em 07/06/2021 20:25

 

Atualização em 09 de junho de 2021, às 17h09

Diante da repercussão negativa, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, voltou atrás em sua decisão de ter acesso prévio às questões do Enem. Sua declaração foi feita na manhã de hoje (09), durante audiência na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados.

A desistência não reduz a gravidade de suas manifestações e de suas intenções. É inaceitável que o ministro se arvore no direito de decidir o que entra na prova e o que deve ser suprimido com base no que julga ser “ideológico”. Logo ele, que não consegue separar aquilo que é da esfera privada – suas convicções religiosas – do que está no campo da vida pública – seu trabalho como ministro.

 

O pastor evangélico da Igreja Presbiteriana Jardim de Oração Milton Ribeiro, que ora ocupa o cargo de ministro da Educação, manifestou intenção de ter acesso prévio às questões do Enem para evitar “questões subjetivas e ideológicas”. O assunto foi abordado no dia 03/06, em entrevista à jornalista Renata Agostini, da CNN e confirmado pelo presidente do INEP, Danilo Dupas Ribeiro, em audiência pública na Câmara dos Deputados, no dia 07.

“Nós sabemos que, muitas vezes, ‘haviam’ [sic] perguntas muito subjetivas ou até mesmo com cunho ideológico. Isso nós não queremos. Queremos provas técnicas que exatamente vejam, avaliem o aluno naquilo que eles sabem”, afirmou Milton Ribeiro. E citou como exemplo “perguntas relativas a vestimentas de travestis” e “uma discussão sobre os salários do Neymar e da Marta, mostrando que mulheres ganham menos do que os homens (...) é uma questão desnecessária para avaliar o conhecimento de alguém".

Além de escorregar no Português, o ministro pastor provou que também não entende avaliação, nem de ensino médio, muito menos de Enem. Sua obsessão ideológica lhe impede até mesmo de ler e compreender o enunciado de um exercício dirigido a alunos do ensino médio. A questão sobre “vestimentas de travestis”, por exemplo, pedia a definição de “dialeto”. Professores sérios podem divergir sobre a qualidade do enunciado, mas dificilmente abordariam a questão com o argumento risível utilizado por Milton Ribeiro. 

Não é novidade. Foi esse ministo que afirmou que "ser professor é quase uma declaração que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa". Em abril desse ano, numa aula magna na UFPB declarou que "crianças com 9 anos, 10 anos, não sabe [sic] ler. Sabe tudo - com respeito às senhoras aqui presentes - sabe  até colocar uma camisinha, mas não sabe que B mais A é BA". 

Porém, mais grave do que comentários toscos que só servem para atestar sua ignorância, é a sinalização do ministro de que deseja ter acesso prévio às questões do Enem, uma hipótese inaceitável sob qualquer aspecto. Em primeiro lugar, porque significa quebra de sigilo. Em segundo lugar, porque tem o intuito de controlar e censurar o conteúdo da prova.

Se isso vier a acontecer, a prova terá que ser anulada e o ministro, responsabilizado.  

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