Exigir trabalho presencial é um ato de irresponsabilidade que pode matar
Atualizado em 09 de março de 2021, às 12h56
Mais de 260 mil pessoas mortas, inclusive professores, aceleração vertiginosa das taxas de contágio e risco iminente de colapso em todo o país. Nem toda essa tragédia foi suficiente para convencer o governo estadual a manter as escolas fechadas para o trabalho presencial.
O consórcio da Secretaria de Educação com parte das escolas privadas e aquele grupo de senhoras autodenominadas "Movimento Escolas Abertas" venceu a queda de braço, contrariando os secretários estaduais de Saúde de todo o país, inclusive o do governo paulista, Jean Gorinchteyn.
No dia 1º de março, o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (CONASS) divulgou uma carta aberta com propostas para conter o avanço acelerado da epidemia. Uma das medidas era a suspensão das aulas presenciais. Embora não tenha assinado o manifesto, o secretário de São Paulo, em entrevista à Rádio CBN, também defendeu enfaticamente a suspensão das atividades escolares presenciais.
Pouco adiantou. Venceu o poder econômico, prevaleceu a pressão política. O secretário da Educação tomou de assalto a pasta da Saúde, confrontou médicos e especialistas e fez coro com as senhoras do Escolas Abertas que, um dia antes, tinham se aglomerado em frente a residência de Jean Gorinchteyn para protestar.
Mais uma vez, Rossieli deu liberdade para cada escola particular decidir o que fazer na fase vermelha. Ela pode colocar a vida de todos em risco, exigindo trabalho presencial, ou mandar todo mundo pra casa - alunos e trabalhadores - , em atividades remotas. Aos estudantes e responsáveis também foi facultada a possibilidade de permanecer em casa.
Só as professoras e os professores não têm direito de escolha. Além de serem obrigados a trabalhar presencialmente, colocando em perigo a sua vida e a de seus familiares, terão que se desdobrar para atender simultaneamente os alunos que forem para a escola e aqueles que decidiram permanecer em casa.
Ceder a grupos de pressão e manter escolas com atividades presenciais (assim como locais de cultos) foi uma decisão errada e irresponsável, própria de interesses que estão longe da luta pela vida e pela erradicação da epidemia.
As escolas, agora, estão moralmente obrigadas a agir para garantir a saúde e a vida das trabalhadoras e dos trabalhadores e isso requer a imediata suspensão de toda atividade presencial. Elas podem e devem funcionar em atividade remota, com todos os funcionários em suas casas.
Os advogados do SinproSP estão estudando medidas jurídicas possíveis para suspender o trabalho presencial nas escolas. Há ainda a ação movida pela Fepesp, Apeoesp e outras entidades que continua a tramitar e pode ser julgada a qualquer momento.
No campo da ação política, as professoras e os professores da educação básica decidiram entrar em greve, a partir do dia 11, caso as escolas insistiam nas aulas presenciais nesse momento trágico para toda a sociedade.