Artista a frente de seu tempo, Bosch foi tema de palestra no SinproSP
No início da palestra sobre os 500 anos da morte do pintor Hieronymus Bosch, o professor e crítico de arte Antonio Santoro Junior, explicou como surgiu a ideia de elaborar a pesquisa que norteou todo o seu trabalho sobre o artista holandês.
Santoro conta que veio de uma família circense, que tinha o hábito de se comunicar com outras trupes por meio de cartas. Há alguns anos o professor foi reler esses textos e notou uma peculiaridade comum em várias delas, a oração a Nossa Senhora do Desterro.
Curioso, foi atrás de informações para entender o significado da prece. Descobriu que, na época em que as cartas foram escritas, a súplica a N. S. do Desterro era considerada uma ‘oração forte’, utilizada para espantar indivíduos indesejados.
Em sua pesquisa encontrou também representações artísticas da santa, em duas formas distintas: uma com traços mais delicados, e realistas a quem os autores das obras chamavam de ‘Fuga para o Egito’ e outra com traços que lembrariam movimentos como o surrealismo ou o expressionismo a qual o nome atribuído era ‘Nossa Senhora do Desterro’.
Foi após esse levantamento de informações que Santoro notou que na obra ‘As tentações de Santo Antão’, de Hieronymus Bosch, havia uma imagem representando uma N. S. do Desterro (clique na imagem para ampliar).
Na tela central da peça, no canto inferior à direita, há uma ratazana levando um tronco de árvore sentado (artifício usado por Bosch quando queria esconder algum personagem em suas obras), onde há uma mulher carregando um bebê. Essa seria a representação da mãe do menino Jesus fugindo para salvar seu filho, a representação de N. S. do Desterro.
Bosch por Santoro
O professor apresenta Bosch como um artista à frente de seu tempo. Ele explica que, ainda que o pintor fosse tido como louco durante toda sua vida, dado ao teor de suas obras, Hieronymus sempre teve uma boa relação com a nobreza, que patrocinavam boa parte de suas obras. Para os mais ricos, o artista pintava o homem como era por dentro.
O professor ainda aponta que Bosch, por bastante tempo esquecido na cena artística, voltou a ser discutido no começo do século XX, no surrealismo. O pintor, que morreu 400 anos antes do início do movimento surrealista, já apresentava elementos que caracterizavam o surreal.
Segundo Santoro, Bosch pintava a loucura em suas obras por acreditar que cada vez menos as pessoas iriam ler, então era sua missão representar de forma imagética o bem e o mal, dessa forma caberia ao observador do quadro decidir qual caminho seguir.