Tempos difíceis para os trabalhadores
O momento atual é preocupante para os trabalhadores e deve ficar ainda mais complicado caso o Congresso vote pelo impedimento da presidente Dilma. Esta é a opinião de João Guilherme Vargas Neto, consultor sindical, e Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, diretor de documentação do Diap. Eles participaram do projeto Diálogos Fepesp, promovido pela Federação dos Professores. O debate ocorreu dia 28/06, no Sinpro-SP.
João Guilherme Vargas Neto e Antônio Augusto Queiroz (a partir da esquerda) |
Para Toninho, o governo Temer já disse a que veio, quando divulgou o documento “Ponte Para o Futuro”, antes mesmo do afastamento de Dilma. Seu governo tem como eixos a redefinição do papel do Estado e dos direito e liberalização da economia, com abertura da economia ao capital estrangeiro nos setores onde ainda havia algum controle do Estado. Para tanto, seu programa se assenta na desregulamentação e desindexação da economia, desvinculação orçamentária (que desobriga o governo a gastar um percentual do PIB com serviços para a população, como saúde e educação) e transferência para o setor privado de serviços.
Dada ao perfil do Congresso Nacional - conservador do ponto de vista político, liberal na perspectiva econômica e atrasado em relação aos direitos sociais – o programa que está sendo desenhado – de desmanche do aparelho do Estado - terá condições de ser implantado e a conta vai ser paga pelos trabalhadores. “É uma transferência se renda e a correlação de forças é muito desfavorável aos trabalhadores”, concluiu.
Toninho citou as reformas previdenciária e trabalhista. Embora o governo ainda não tenha apresentado as mudanças oficialmente, a proposta deve criar uma idade mínima – de 65 a 70 anos -, ampliação do tempo de contribuição, isonomia nas regras entre homens e mulheres e redução das pensões. No campo trabalhista, as ameaças mais imediatas são a terceirização e a prevalência do negociado sobre o legislado.
João Guilherme destacou que há uma forte sensação de desarranjo no Brasil, embora esta não seja a pior crise enfrentada no país. “O motivo é que estamos vivendo uma transitoriedade política e uma recessão econômica que produziu 12 milhões de desempregados, mas não há uma crise social”.
O consultor político também acredita que os tempos serão difíceis daqui pra frente. Referiu-se não apenas às mudanças na economia, mas também no campo dos direitos e do mundo do trabalho. Citando a Kroton, lembrou que o setor de educação também está passando por um processo de financeirização, que prioriza o lucro. Ele também alertou para a divisão no movimento sindical e para o fator de que muitas das propostas que precarizam as relações de trabalho são vendidas de forma tentadora. “É o caso do negociado sobre o legislado, apresentado como uma proposta que valoriza a livre negociação, a vontade dos trabalhadores e dos sindicatos”.