Mercadante perde mais uma oportunidade ...
J.S. Faro*, no Blog História, Cultura e Comunicação
A notícia de arrepiar deste sábado não tem nada a ver com senadores presos, banqueiros presos, deputados e dirigentes da Vale do Rio Doce e da Samarco ainda soltos; tem a ver com mais uma bateria de clichês ditos pelo ministro da Educação. Apressando-se em responder à opinião de alguns economistas (!) de que a falta de qualidade do ensino é responsável pelas dificuldades econômicas que o Brasil enfrenta, Aloizio Mercadante saiu-se com uma frase de efeito que pode muito bem se transformar num aforismo de sua gestão: "Se o Brasil formasse médicos como professores, pacientes morreriam". Que coisa...
Não vou discutir a maneira como se dá a formação de médicos e professores no Brasil - porque não tenho dúvidas sobre a precariedade das duas, e nem sei dizer se ela não é maior na medicina do que na educação. O que eu contesto na fraseologia improvisada do ministro - além da sua grosseria e indelicadeza com as duas carreiras - é a oportunidade que ele perde, com a suposta autoridade que tem para estar onde está, de jogar um pouco de luz sobre um problema gravíssimo: de que forma a Educação ajudaria na promoção do crescimento econômico de forma sustentável - como já acontece em vários países que sempre nos servem de referência quando esse é o assunto? Ao invés disso, Mercadante mistura tudo: ensino privado, currículo, ensino técnico, economia do conhecimento, capitalismo tardio etc. Tentei entender o que o ministro disse e não consegui, e desafio ele próprio a me explicar.
Ministro, com todo o respeito, a educação brasileira não tem projeto em nenhum dos seus segmentos. O Estado - e V.Exa. tem responsabilidade nisso a julgar por seu papel no escândalo do Fies - abriu mão de sua função reguladora e norteadora de um ensino voltado para as necessidades gerais da sociedade e transferiu essa responsabilidade para a especulação empresarial - e ao que parece, considerando suas declarações, vai continuar fazendo isso. Ministro, temos em nosso território o maior grupo de ensino particular do mundo e contando ninguém acredita: esse mesmo grupo não oferece, nem na pesquisa nem no ensino, um único projeto consistente que nos beneficie, mas aufere lucros de suas atividades de envergonhar qualquer um, parte deles com a ajuda de recursos públicos. V. Exa está disposto a punir esses picaretas que exploram a boa fé dos estudantes e enxovalham a dignidade nacional?
O economistas que argumentaram com o velho axioma liberal e conservador de que educação é igual a desenvolvimento, também eles parecem ignorar o núcleo principal das dificuldades que o país enfrenta: a transferência de renda da sociedade para a acumulação privada e improdutiva do empresariado ou para as nações do centro dinâmico do capitalismo. É essa a condição estrutural do nosso atraso e da nossa estagnação que vitima também a qualidade do ensino em todas as profissões e carreiras. V.Exa. está disposto a mexer nisso? Se estiver, deixe isso claro na próxima entrevista...