O ranking da Folha de S.Paulo e as condições de trabalho dos professores
A análise que o jornal Folha de S.Paulo fez das escolas privadas da cidade de São Paulo merece ser esmiuçada.
Faremos a crítica do proselitismo nas propagadas que aparecem no caderno em outro momento, por si só observa-se uma tática oportunista em utilizar o caderno e recheá-lo de anúncios que vendem imagens de escolas a torto e a direito. O caderno possui 32 paginas sendo que escolas colocaram conteúdo de propaganda em 21 delas ou, como gosta de mensurar a Folha, aproximadamente 66% do material produzido.
Preferimos voltar os olhos ao que mostra as diversas matérias que aparecem no encarte deste jornal.
Não há dúvidas que, na ausência de uma escola pública de qualidade, empresários ocuparam este vácuo, oferecendo escolas de qualidade proveniente, como afirma a Folha, principalmente do trabalho dos professores que integram a equipe pedagógica.
Devemos analisar alguns pontos que aparecem neste levantamento.
O primeiro é a utilização de apostilas que treinam os alunos a fazerem avaliações externas como o ENEM e os diversos vestibulares. O critério de ranqueamento utilizando a posição no ENEM, por exemplo, trouxe aos professores mais uma preocupação, além daquela histórica - que era a de transformar os alunos em cidadãos através da formação educacional e do conhecimento advindo dela.
Agora as equipes pedagógicas se vêem reféns de alcançar notas cada vez maiores nestas avaliações para que a concorrência entre as escolas se dê, não pelo compromisso com a educação, mas sim pela obtenção de mais alunos valendo-se da boa posição no ranking do ENEM.
Não raro observamos exemplos de assédio moral na tentativa de obtenção de melhores notas. A pressão dos mantenedores sobre a equipe é imensa. Ao que parece isso é subverter a função da educação, já que em qualquer sociedade, em qualquer momento histórico, a educação se presta a obter progresso social, e não como mera obtenção de capital através da maior captação de alunos. Neste sentido é preciso ponderar sobre o espírito da educação que é oferecida pelas escolas. Não podemos aceitar a idéia que a escola seja uma mera fornecedora de mão de obra para o mercado, mas que seja efetivamente um caminho para o avanço da sociedade.
A segunda situação que merece atenção é aquela mostrada na relação custo-benefício. Ora, a matéria é explicita quando afirma que mensalidades mais altas significam melhores notas no ENEM. Além do caráter de exclusão social, observamos que não necessariamente a matrícula do aluno em uma escola particular cara será a garantia de seu sucesso, já que neste setor a concorrência, não somente entre as escolas, mas também entre os alunos, é abissal e sociamente injusta.
Pessoas diferentes entre si disputam o mesmo espaço social nas universidades públicas. Apesar da qualidade do ensino, as escolas privadas promovem uma selvagem luta pelas melhores vagas nas instituições públicas.
O terceiro ponto é uma das bandeiras históricas do movimento sindical. Os indicadores mostram que No ensino, professor é quem faz a diferença. É preciso discutir as condições de trabalho deste professor, observar o quanto é o seu desgaste para manter a qualidade e qual o número de alunos que estes professores atendem dentro e fora da sala de aula.
Os mantenedores resistem a conversar sobre alguns pontos nevrálgicos para nossa profissão: estabelecer um número máximo de alunos por sala de aula seria fundamental para manter a qualidade. Remunerar os professores pelas atividades realizadas extraclasse seria fazer justiça a uma categoria que é diretamente responsável pela qualidade de ensino.
Esta resistência mostra mais uma lamentável faceta de quem afirma defender a educação, porém não está preocupado com os atores que a produzem. Não somente os professores sofrem desgaste com a superlotação, mas mesmo os alunos não conseguem ter a atenção necessária por conta desta política de busca incessante pelo lucro.
O trabalho exagerado fora da sala de aula faz com que os professores percam tempo precioso de descanso, momento que poderiam estar plenamente com seus familiares ou aproveitando para ler mais, assistir a bons filmes, viajar e cada vez mais enriquecer o seu cabedal cultural; para assim oferecer ainda mais conhecimento aos seus alunos.
As recomendações mostradas pelo jornal são seguidas? Não! As escolas se especializaram em colocar mais bancos nas salas de aulas para diminuir custos e aumentar as receitas. Quantos alunos são necessários para se pagar um professor? Em qualquer planilha de administração poucos alunos pagam este professor, o resto é mais-valia no seu estado mais brutal, e não é por outro motivo que os empresários de educação cada dia mais ficam mais robustos.
As novas tecnologias são, e sempre serão bem vindas; no entanto é preciso usá-la com moderação. Plataformas não devem ser alimentadas durante as poucas folgas do professor, correios eletrônicos não devem ser disponibilizados aos alunos para que a qualquer momento estes procurem o professor, redes sociais não devem ser usadas constantemente para acompanhar os alunos e suas dúvidas.
Há na legislação a figura do descanso semanal remunerado e inúmeras escolas desrespeitam a lei ao exigir mais e mais trabalho nas horas de folga. Mais uma vez: usemos as novas tecnologias com moderação para não criar dependência e tão pouco desrespeito ao trabalhador.
Indicamos aqui o link da Folha de S.Paulo para que a toda a categoria docente possa ter acesso a matéria e também para nos passar as impressões causadas por ela. Existem outros pontos da reportagem que são importantes e traremos mais a frente.
O SINPRO-SP quer fazer este bom debate e tem a certeza de que o espaço correto para isso é na Campanha Salarial. Os professores devem comparecer em nossos foros para mostrar também que possuem robustez nos seus posicionamentos. Mostrar que esta qualidade advém principalmente do seu trabalho e que o respeito a ele é a garantia de justiça e de continuidade do bom trabalho desempenhado até agora.
DIRETORIA DO SINPRO SP