O resgate da dignidade e da verdade histórica
A jovem república brasileira sofreu, ao longo destes 125 anos, inúmeros momentos de turbulência e ausência de democracia. A primeira república foi marcada pela concentração de capital e a violenta repressão aos movimentos sociais. O campo brasileiro e as áreas urbanas sofreram com o descaso de uma república aristocrática e arcaica, o que por si só já configura uma enorme contradição republicana.
No entanto, o que estava ruim poderia piorar, e piorou. Após a Revolução de 1930, o Brasil mergulhou numa violenta ditadura inspirada no nazi-fascismo europeu. Getúlio Vargas governou o país por uma década e meia utilizando, como agente de persuasão, o violento braço policial, que teve em Filinto Muller, chefe da polícia do Rio de Janeiro, seu maior expoente.
As cadeias estavam cheias de opositores e críticos do governo. Campos de concentração espalhavam-se pelo Brasil, sendo o da Ilha Grande, no litoral fluminense, o mais famoso. Intelectuais, jornalistas, escritores, professores e tantos outros foram perseguidos, torturados e censurados. Em que pese a distância do tempo, ainda temos sobreviventes e documentos desta época. É preciso resgatá-los e dar voz e memória a essas pessoas.
Após um breve período de democracia, o Brasil mais uma vez é sufocado por um período discricionário. Agora com tecnologia estadunidense, os militares brasileiros, no contexto da guerra fria, instituem uma ditadura ainda mais dura que a primeira. Dessa vez não apenas a polícia é utilizada para perseguir aqueles que se opunham ao governo militar, mas toda a estrutura das forças militares é usada para reprimir o pensamento livre. As técnicas de tortura física e psicológica são importadas dos EUA e o Brasil passa a viver sobre o terror das armas e do medo das pessoas se colocarem politicamente.
A lei de Anistia, em 1979, com a desculpa de pacificar a sociedade brasileira, perdoou todos os agentes estatais que praticaram estes crimes. Aqui não se trata de tentar fazer um tribunal que busque a vingança contra essa gente, mas sim dar voz àqueles que sofreram nesses períodos, àqueles que diretamente foram violentados, e ouvir também os familiares dessas pessoas. O objetivo é dar ainda mais consistência ao relatório final da Comissão Nacional da Verdade e, assim, resgatar a verdade histórica que ainda não está plenamente contada.
Essa verdade é de suma importância para o país, ainda mais neste momento de plena democracia em que vivemos. Esta verdade tem uma relevância histórica gigantesca e servirá como instrumento de uma cada vez maior maturidade política da sociedade. Esta maturidade pavimentará ainda mais o progresso brasileiro, e esperamos que seja o caminho para o resgate da ampla dignidade humana para todos os brasileiros.
Por tudo isso, o nosso sindicato quer saber dessas histórias; queremos que os professores e funcionários administrativos que sofreram alguma violência nesses períodos deem o seu depoimento para a nossa entidade. Esse depoimento poderá ser ou não anônimo, conforme o desejo das pessoas que o fizerem. Após esse resgate, ele será reunido a depoimentos do Brasil inteiro e será encaminhado à Comissão Nacional da Verdade instituída pelo governo brasileiro até final do ano de 2014.
Já foi dito que uma mentira contada mil vezes torna-se verdade. Sabemos o que esta afirmação causou: a morte e a perseguição de milhões de pessoas causadas pelo nazismo. O nosso sindicato prefere outra sentença, aquela que diz que a busca da verdade é o melhor caminho para o progresso humano. Regatemos, pois, a verdade da história recente brasileira.
Saudações,
SINPRO SÃO PAULO