125 anos de República, apenas 43 anos de democracia
O título acima se refere à definição clássica de democracia vista como um regime político que pressupõe a participação direta dos cidadãos do país.
No caso do Brasil, na maior parte da nossa jovem República, esta definição foi aviltada em muitas situações. Na verdade podemos afirmar que tivemos breves períodos de participação popular na escolha de nossos governantes: o período de 18 anos que vai desde o fim da segunda guerra mundial até o golpe de 64 e este agora que vivemos desde as eleições diretas de 1989.
Desde os vícios da primeira República, passando pela ditadura do Estado Novo, chegando finalmente ao regime militar, o povo brasileiro foi alijado da participação política que lhe cabia, atrasando a sua formação política e criando climas de instabilidades sociais e econômicas que por todo o século XX trouxeram prejuízos gigantescos para a nação.
O Brasil já saiu atrás de seus vizinhos quando, no processo de independência frente a Portugal, permaneceu sob a égide de um estado absolutista controlado pela família Real. A proclamação da República que se esperava trazer à tona indivíduos capazes de construir uma grande nação foi uma mentira. O que se viu foi um golpe militar com o claro intuito de manter inalteradas as estruturas sociais brasileiras.
Quanto tempo perdido...
Não é possível mensurar ditaduras. Os crimes que em nome delas foram cometidos tornam impossível determinar quais foram as piores. A Varguista? A militar? Não há como determinar qual delas atrasou mais o processo de amadurecimento político brasileiro.
Fincamos, pois, o olhar na última, aquela mais próxima de nosso tempo. Aquela que começou num primeiro de Abril, data tão própria para batizar aquilo que seria uma grande mentira.
Na conjuntura da Guerra fria e vivendo sob a impressão que o comunismo seria o inferno na terra, os militares brasileiros apearam do poder um governante consagrado pelo povo e eleito de maneira direta e democrática.
Usaram as mais sórdidas mentiras para depor João Goulart, atacando-o de maneira sistemática, criando invencionices para a população, acusando-o de ser um representante da URSS no Brasil, dizendo mil vezes que a família brasileira corria sérios riscos com aquele governo e instigando a população a exigir a sua retirada pela força.
E foi isso o que aconteceu: isolado, castigado pela mídia de então, sofrendo pressão dos empresários nacionais e estrangeiros, fustigado pela forte oposição política que montara uma frente contra ele, Jango, como era conhecido, não teve alternativa a não ser embarcar em um avião em direção ao seu estado natal, Rio Grande do Sul, e de lá mergulhar no exílio no Uruguai.
Taxado de covarde, quando na verdade pouca resistência poderia oferecer, foi deposto pelo congresso e uma junta militar assumiu o comando da nação.
O que se viu a partir deste fatídico primeiro de Abril foi uma sucessão de mentiras poucas vezes vista na história.
O teatro das eleições dizia que o Brasil era um país democrático com eleições com participação massiva do povo. Nenhuma delas foi para escolher os seus governantes. Os poucos representantes eleitos foram amordaçados e obrigados a chancelarem as decisões tomadas pelos generais.
A mentira da democracia espalhou-se também pela imprensa, jornais foram censurados, jornalistas perseguidos, torturados, mortos.
As universidades controladas, o pensamento livre foi acorrentado na mais clara tradição fascista.
Sindicatos sofreram intervenções, os dirigentes que se opunham ao golpe foram mandados para o cárcere e/ou para as covas sem identificação.
A censura atingiu também a arte nas suas mais diversas manifestações; obras e autores foram violentados sem que tivessem quem os defendesse.
Intelectuais fugiram do país buscando a paz necessária para pensar.
A justiça fora violentamente manipulada, com as decisões de suas cortes mais altas sendo dirigidas pelos milicos.
Congresso fechado, povo calado. Este o lema maior do Estado Maior da “Redentora” (como era chamado o golpe pelos militares e seus lambes botas).
De 1964 até 1985, o que se viu imperar no Brasil foi o medo da repressão, esta a única estatística que cresceu de forma desmesurada.
Vinte anos que o Brasil patinou em todos os aspectos: na política, a não participação do povo; na cultura, o medo da criação; nas escolas, a obediência cega; na repressão, a violência em estado bruto.
Na economia, duas décadas perdidas: o endividamento externo gigantesco, a ausência de obras estruturais que alavancassem nosso desenvolvimento, a carestia, a cada vez maior desigualdade social.
Por tudo isso é com pesar que relembramos esta data, mas é também com este aprendizado que o Brasil deve procurar o seu caminho, no entanto só o fará plenamente com uma população atuante e jamais coagida.
DIRETORIA DO SINPRO-SP