Prof° Luiz Antônio Barbagli, presidente do SINPRO-SP, sobre a crise do Enem
Como fica a relação do professor junto ao Enem e a outras avaliações de vestibular?
A primeira coisa que precisamos ressaltar é o fato de que todos os conteúdos que nós temos e os livros didáticos adotados se referem ao vestibular, e quase que em especial, ao vestibular a Fuvest. A metodologia da Fuvest é diferente do Enem, então ao longo do ano, e ao longo da vida, o professor prepara os seus alunos para o vestibular. O Enem introduz uma nova forma - e uma nova formatação - de avaliação com um outro tipo de pergunta, mais elaborada, mais pensativa, com maiores reflexões. Com o Enem, o conteúdo e o jeito que o professor trabalha para vestibular são prejudicados, pois há um desvio.
A metodologia do Enem compromete a execução do planejamento escolar anual?
O que acontece é que o ano começou focado no vestibular. Chega setembro e sai a classificação do Enem. O responsável pela escola quer que neste momento, próximo ao final do ano e a preparação para os vestibulares, o professor desvie do seu foco e comece a preparar o aluno para que ele consiga atingir bons resultados no Enem, então conteúdo sofre uma reviravolta.
A escola não sabe se foca no Exame ou se continua no que foi programado. O conteúdo não deveria ser para o Enem ou para a Fuvest, ele deveria ser para o resto da vida. Não dá para ser linear entre os dois exames, pois eles têm conceitos diferentes sobre o método de avaliação.
Além do que, na aula você tem que escolher qual abordagem dar ao conteúdo, se é a direta, ou aquela mais pensativa.
O que torna o Enem complicado é não saber o que desejam saber quem formula essa prova. Você vai precisar de um histórico pra entender como se comportam as perguntas, ou seja: daqui a 10 anos será possível conhecer o comportamento da avaliação diante do histórico linear. A partir disso, consolida-se o modelo de exame e não será necessário fazer um pré-teste pra saber qual é o nível do exame. Os professores poderão adaptar seus conteúdos e as provas para essa nova forma de avaliação.
Pensando nisso, qual é a sua visão sobre o Enem?
Enquanto todas as universidades públicas não emplacarem o conceito de um exame unificado, o Enem vai ficar manco, um saci, na expectativa de que instituição vai aceitá-lo. O Enem tem coisas boas, como a unificação dos processos seletivos. Eu entendo que vale a pena um exame nacional, mas desde que ele fosse um único exame de ingresso às universidades. Todas elas deveriam ter ingresso pelo Enem. Se isso acontecesse, a primeira coisa que se eliminaria era o problema de ter que se adaptar todo um conteúdo para uma prova.
Não seria muito mais honesto ter um exame, dois por ano, desde o primeiro do ensino médio? O Enem é a fotografia do seu momento atual. Se houvesse um exame nacional, devidamente apoiado por todas, em que todos os anos seguisse uma dinâmica linear, não precisaríamos do pré-teste, pois todo mundo já conheceria como o exame iria funcionar.
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