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O papel do professor hoje

Atualizada em 03/04/2009 12:15
O filósofo Luis Felipe Pondé destaca a grande responsabilidade do ofício docente

Que papel tem o professor hoje? As transformações ocorridas na sociedade modificaram de alguma forma o trabalho docente na contemporaneidade? Há novas atribuições ou responsabilidades? As indagações instigaram o SINPRO-SP a discutir a questão.

Uma resposta aparece de forma consensual: o papel fundamental do professor é o de ensinar. Mas, a partir disso, o consenso cede lugar a reflexões mais complexas. A professora Maria Sofia Aragão pondera que a transmissão de conteúdos é, sem dúvida, função docente. Mas é preciso levar em conta também o gerenciamento dos conflitos em sala de aula o que não é exatamente novidade no papel do professor. A novidade talvez seja a amplitude com que eles se colocam hoje na sociedade. Segundo ela, também cabe ao professor inserir os alunos na coletividade cujo perfil é o resultado de uma construção sócio-política e cultural. "Essas funções combinadas, interligadas, explicam o papel do professor", analisa.

Opinião semelhante tem o filósofo e professor Luís Felipe Pondé, que participou, recentemente, de um debate sobre o tema promovido pelo SINPRO-SP. Para ele, o papel do professor tem a ver o lidar com nossa humanidade. Talvez por isso mesmo seja uma atividade bastante difícil. “Dar ao aluno o aparelho crítico para entender mundo é tarefa de grande responsabilidade”, destaca. Isso, provavelmente, explica as angústias e frustrações que acompanham a profissão na atualidade.

"Como" no lugar de "o que" ensinar
O debate sobre o papel do professor não pode deixar de lado uma questão latente, que pode estar contribuindo para o esvaziamento da função docente: o "como ensinar" em detrimento ao "o que ensinar". Essa é a opinião da professora Silvia Barbara. "Há uma excessiva preocupação em como o professor deve ensinar. O cuidado com o conteúdo, com o rigor conceitual, com a atualização sistemática, tornou-se questão secundária. Daí a expansão de conteúdos apostilados, com fórmulas prontas ou semi-acabadas de o que e como fazer na sala de aula".

Para Silvia Abreu , é preciso resgatar o brio dos professores

Barbara atribuiu essa tendência a uma excessiva autonomia do discurso pedagógico, desvinculado das diversas áreas disciplinares. "Como se fosse possível criar métodos de ensino únicos, aplicáveis a qualquer campo de conhecimento - matemática, geografia, história etc.". A professora alerta que as receitas de "como ensinar" podem resolver de imediato algumas necessidades, mas a médio e longo prazo tendem a criar uma geração de professores cada vez mais despreparados. "Precisamos de professores que saibam muito bem o que vão ensinar na sua área de conhecimento específico".

Estudar sempre
Aliás, estudar, aprofundar-se, manter-se atualizado são tarefas fundamentais. “Quando estuda muito, o professor se liberta em sala de aula”, afirma Pondé.

A professora Silvia Abreu, com mais de 20 anos de experiência no magistério, destaca que há hoje um desgaste grande entre os docentes. Segundo ela, alguns professores estão abrindo mão de seu ofício. “Como mudar a imagem dos docentes se alguns de nós mesmos contribuímos de alguma forma para essa imagem?”, instigou, durante o debate promovido pelo SINPRO-SP. “É preciso resgatar o brio dos professores.

Silvia enfatiza a importância do estudo contínuo e da formação continuada. Mas lembra que, em muitos dos cursos voltados à capacitação docente, faltam pessoas com a experiência da sala de aula. “A teoria é importante, mas a prática precisa estar associada”, disse. O professor é aquele que tem a bagagem da sala de aula e precisa ser ouvido, ser incluído nos debates e discussões sobre educação.

Se não há discordância de que o papel do professor hoje é – como sempre foi – o de ensinar, ainda que, em meio a tantas reflexões, o ensinar assuma atribuições mais amplas, outra questão se mostrou consensual: a de que o professor é figura essencial em uma sociedade cada vez mais complexa como a nossa.

Sua opinião
E para você, qual é o papel do professor hoje? Envie sua reflexão para e-mail imprensa@sinprosp.org.br, com autorização para que possa ser publicada neste espaço.

» Raimundo Ferreira de Vasconcelos e Vasconcelos
"Na minha modesta avaliação, e após mais de vinte anos de magistério superior, continuo com a pretensão de ensinar, mas também com humildade para aprender, pois penso que numa sala de aula talvez eu mais aprenda do que ensine, visto ser apenas um a trocar experiências com 50, 60, 70, 80...alunos, e assim, creio que hoje teremos de ir além do papel de professor - aquele que ensina, transmite/explica/analisa dados e informações, prepara para o trabalho; para atingirmos o papel de educador que, além de ensinar, tira dúvidas, corrige (tarefas, atos e atitudes), orienta (nas tarefas e na vida), enfim, contribui para a formação de cidadãos, buscando preparar para a vida e não apenas para o mercado de trabalho. Não obstante, preparar só para o trabalho já seria uma vitória, não fosse a presença em sala de aula de certos dadadores de aula, despreparados intelectual e eticamente, e por conseguinte, incapazes de sanar dúvidas, orientar, estimular, de ensinar a aprender e aprender para ensinar, enfim, utilizam-se do magistério apenas como fonte adicional de renda, limitando-se a repetir e mal, quando muito, parte do que outros escreveram. Esta última espécie de "profissionais" assemelha-se e por vezes encontra respaldo de certos gestores/mantenedores educacionais que encaram a educação tão somente como uma fonte de lucros. Deste modo, fingem que educam enquanto aqueles fingem que ensinam; já seus alunos - melhor seria suas vitimas - nem precisam fingir que se educaram, pois têm diploma, mas muitas vezes assemelham-se a ignorantes ilustrados. Alguns dentre estes até tornam-se professores/dadadores de aula e o ciclo vicioso recomeça..."

» Jose Carlos Ribeiro
Sem duvida nenhuma o papel principal do professor e ensinar. Mas isso ficou a muito tempo para traz, hoje o professor depara com uma sala cheia de alunos desinteressados, sem perspectivas de futuro, que so vao a escola por causa do bolsa escola. Alunos com serios disturbios de comportamentos. Familias que deixaram ha muito a edcacao dos filhos para a escola.O papel primordial do professor que e ensinar ficou relegado ao segundo plano. Sem falar da falta de estrutura da escola publica, em pleno sec.XXI, ainda so contamos na maioria das vezes com giz e guspe.

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