Campanha salarial

MANIFESTO DOS PROFESSORES DAS ESCOLAS PRIVADAS DE SÃO PAULO*

Atualizada em 17/03/2018 15:03

A história dos professores se confunde com a história da democracia. Só é possível fundar uma República com educadores atuando continuamente.

É aos professores que se atribui a missão de partilhar o que produzimos há milênios. Nossos erros e acertos. Nossas tentativas de definir as imagens de um mundo em constante transformação.

Aos professores, em nossos dias, cabem tarefas múltiplas: do ensino de técnicas específicas aos reguladores das interações sociais. Família e instituições. Particulares e universais. Desigualdades e diferenças. O professor é uma ponte entre continentes móveis. A criança, o jovem, a escola, o mundo. Ponte viva e invisível, articulando-se e desdobrando-se entre o rigor da tradição e a fluidez da contemporaneidade.

O paradoxo da educação é justamente - a partir de uma complexa trama de ciências e afetos - socializar individualizando. Semeamos saberes consagrados pela coletividade a fim de potencializar indivíduos que venham a ser capazes de incorporar e ressignificar esses saberes.

Professores são agenciadores de experiências, decantam em fogo lento o rigor do estudo sistemático e a imaginação criadora. Ensinam maneiras específicas de decifração do mundo para também promover traduções outras, para que se sonhe outros mundos. Nada menos que o velho artifício de pensar novos modos e modulações de pensamento.

Quando se precariza a profissão de professor, fere-se a democracia. Mata-se o desejo de se instaurar sociabilidades múltiplas. Quando secamos a educação, irrigamos a tirania.

A escola informal da indústria cultural e a vertente tecnicista de certas pedagogias determinam estratificações imediatistas, redutoras e pobres. Sob o guarda chuva da reinvenção da educação pretende-se solapar direitos, suprimir liberdades, reduzir nossa atuação à mera reprodutibilidade de métodos e sistemas de ensino.

Nossa profissão tem sofrido ataques sistemáticos: ora se tenta criminalizar o exercício docente, ora se insinua que é a educação a grande responsável pelo atraso do país.

Professores são profissionais. Pensadores e agenciadores de afetos. Somos corpos, números e símbolos. Átomos e metáforas. Senóides e signos. Obra em progresso.

Sem professores em boas condições de trabalho jamais ultrapassaremos esse estado de miragem democrática que pretende nos paralisar. É a isso que nos opomos, é contra isso que trabalhamos e é sobre isso e sobre as propostas da Sieeesp, que desvalorizam sobremaneira o nosso trabalho, que expressamos aqui nossa preocupação diante de possíveis alterações no texto da Convenção Coletiva, que precarizam a ação docente e oneram direitos que, por ora, nos são garantidos, a saber: fim da garantia semestral de salários, redução de duas para uma só bolsa de estudo, redução do recesso para 20 dias, introdução do banco de horas, fim da complementação salarial durante a licença médica, exclusão da cláusula que garante o pagamento de recesso quando o professor pede demissão em dezembro, assim como mudanças nas cláusulas que asseguram isonomia salarial e proíbem a escola de contratar professor por salários mais baixos.

Para que nosso ofício possa existir e seguir transformando-se, havemos de preservar o que garante nossa excelência e o futuro de nossa profissão: salários dignos, proteção social, respeito. Sempre subimos ao trapézio com ou sem rede, no entanto, fazemos questão de que nossas cordas e nossos braços estejam fortes.

SINDICATO DOS PROFESSORES DE SÃO PAULO

*Este manifesto, aprovado pela Assembleia dos Professores em 17/03/2018, no SinproSP, foi redigido pelos professores do Colégio Oswald de Andrade com o título "Manifesto da Escolas Privadas"

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